sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Greve na FP - 1961

Amigos!
Recebi este texto do Grupo Barro Branco. Foi postado pelo Cel Ventura e é histórico.
Mostra que o problema salarial é crônico e, também, "histórico". O movimento grevista foi liderado por Aspirantes. Além disso, verifica-se que o policiamento era feito apenas com 144 viaturas (imagino qual era a demanda). Leiam!



FOLHA DE SÃO PAULO, em 14 de janeiro de 1961, sobre a greve na FORÇA PÚBLICA:

“ALASTROU-SE A VARIAS UNIDADES DA FP A GREVE DEFLAGRADA ONTEM PELOS BOMBEIROS DE SÃO PAULO. Irrompida pouco depois das 8:30 horas da manhã, a greve dos bombeiros da Capital – em sinal de protesto contra o nível de seus soldos – ganhou corpo durante todo o dia, alastrando-se pelas unidades com sede no Interior do Estado. Houve adesões na FORÇA PÚBLICA, paralisando inclusive parte do policiamento ordinário da cidade, a cargo da RÁDIO PATRULHA (22 das 144 viaturas) e, ao terminar a jornada, o movimento transformou-se numa greve “por tempo indeterminado”. Trinta detenções –aspirantes e oficiais– foram efetuadas, cinco chamados de incêndio (só na zona centro) deixaram de ser atendidos, além de uma ocorrência em GUARULHOS em que o corpo de um menor afogado não pôde ser retirado da água. As últimas horas da noite de ontem surgiram os primeiros informes segundo os quais, além das trinta prisões, tornadas públicas, dois ônibus lotados de oficiais detidos haviam sido enviados à SOROCABA, embora fontes oficiais não confirmassem a notícia. Às 15:40 horas de 13 de janeiro, o Comandante do CORPO DE BOMBEIROS, CORONEL MILTON MARQUES DE OLIVEIRA, saiu do QG dos Bombeiros e dirigiu-se ao da FORÇA PÚBLICA onde passou a conferenciar com o comandante-geral, o CORONEL do Exército Brasileiro OLDEMAR FERREIRA GARCIA (nomeado por decreto de 7 de janeiro de 1961) e com o chefe do Estado-Maior. Pouco antes das 17 horas o coronel saiu do QG como portador de um apelo a ser dirigido à Corporação em favor da disciplina. O comandante mandou reunir a tropa no pátio do QG. Houve de início resistência dos oficiais e soldados que se encontravam nas imediações, e não desejavam ingressar, desejando antes que o comandante fosse a eles. Depois de alguma hesitação e conduzidos por um tenente, os milicianos reuniram-se, afinal, no pátio interno, onde o CORONEL MILTON MARQUES DE OLIVEIRA lhes dirigiu a palavra. As palavras do comandante foram acolhidas com serenidade, mas não  logrou reprimir a greve que, a partir de então, ganhou características de movimento por tempo indeterminado. Logo em seguida, chegou ao QG o presidente do CLUBE DOS SARGENTOS DA FORÇA PÚBLICA, o qual informou que o movimento tinha a solidariedade de todos os sargentos da FORÇA. Às 18 horas, chegou ao QG o CORONEL COSTA JÚNIOR, comandante do 9 º Batalhão de Policiamento que, em companhia de toda a oficialidade da unidade, resolveu solidarizar-se com o movimento. Interpelado se toda a unidade entrara também em greve ou se apenas hipotecara solidariedade moral, respondeu: “O canário na muda não canta. E eles estão na muda”. Quando retornou à tarde para o QG, o carro que conduziu o comandante da FORÇA PÚBLICA foi seguido por uma perua. Mas os soldados que se achavam à frente do edifício, julgando que o veículo conduzia milicianos presos, montaram verdadeira barreira humana para impedir o seu ingresso no QG. À circulação do boato de que um choque da FP iria dispersá-los, instalaram as mangueiras e prepararam quatro guarnições, dispondo-se a enfrentar qualquer choque com jatos d´água. Foi o momento de maior tensão no curso dos acontecimentos do dia. O povo, do lado de fora, também em ambiente de tensão, se pôs a aplaudir a formação da defesa improvisada. Pouco depois das 17 horas compareceu ao QG uma comissão de líderes sindicais, acompanhados de um deputado. Às 20 horas, foi retirada a ESCADA MAGIRUS que os bombeiros haviam erguido em frente do prédio do CORPO DE BOMBEIROS, tendo no alto uma bandeira preta. Também o clarim aderiu a greve. Os toques ordinários deixaram de ser dados, a partir do toque de revista, ao meio-dia.    

O CHEFE DA CASA MILITAR, CORONEL DJALMA ARANTES, confirmou as notícias de PRONTIDÃO GERAL na FORÇA PÚBLICA e guarda redobrada  no PALÁCIO.

Cerca das 22 horas, o GENERAL STÊNIO CAIO DE ALBUQUERQUE LIMA, comandante do II EXÉRCITO, esteve nos CAMPOS ELÍSIOS, a chamado do governador. Nada transpirou da conversa mantida entre ambos, sabendo-se apenas que foi tratada a situação criada na FP com a greve dos bombeiros.

Às 23 horas, o CAPITÃO SIDNEI GIMENEZ PALÁCIOS, comandante do 5º BC, de TAUBATÉ, que se encontrava no QG do CORPO DE BOMBEIROS, informou à reportagem que o BATALHÃO DE GUARDAS aderiu ao movimento, abrindo os portões da unidade, sem rendição da tropa.

À tarde, o BATALHÃO DE TRÂNSITO da FORÇA PÚBLICA aderiu ao movimento e os guardas abandonaram os semáforos e o policiamento de trânsito. Diante da crise eclodida na FORÇA PÚBLICA, o governador do Estado convocou para ontem à noite uma reunião das principais autoridades do Estado, a fim de estudar o assunto. Cerca das 22 horas teve início essa reunião, que durou até às 23 horas. À saída, a reportagem interrogou o Comandante do II EXÉRCITO, GENERAL STÊNIO CAIO DE ALBUQUERQUE LIMA, que afirmou ter examinado, com o governador e demais autoridades do governo, a situação da crise na FORÇA PÚBLICA. Interrogado se era iminente a intervenção do EXÉRCITO, informou que por enquanto, não cogitava do assunto. Obtiveram-se também do Comandante da FORÇA PÚBLICA, as seguintes informações: 1º) a FP tentará debelar com seus próprios recursos a crise, sem recorrer ao EXÉRCITO; porém, se isso não for possível a intervenção do EXÉRCITO se dará; 2º) A “greve branca”, na sua opinião, continua a mesma; 3º) Não houve propriamente prisão de oficiais do Corpo de Bombeiros, mas apenas de praças e soldados; 4º) Quanto a situação em si, naquelas dependências da FORÇA, disse que o foco de greve permanecia o mesmo. Acentuou, finalmente, que a situação ainda é obscura. 

Outro participante da reunião de ontem à noite nos CAMPOS ELÍSIOS foi o BRIGADEIRO FARIA LIMA, que ao deixar o PALÁCIO, não quis confirmar nem desmentir as notícias de mediação no caso da FORÇA PÚBLICA. O CORONEL HUGO ALMEIDA PORTELA, Comandante do 2º BP, e o MAJOR ÊNIO COLAÇO FRANÇA, comandante do 12º BP, entregaram-se ao comando da FORÇA PÚBLICA por não pretenderem participar do movimento.

Após receber informações do governador CARVALHO PINTO sobre a crise na FORÇA PÚBLICA, o ministro ODÍLIO DENYS entrou em contato com o ministro ARMANDO FALCÃO, da Justiça, com quem tratou do assunto, discutindo providências.

À zero hora de 14 de janeiro, todos os carros (ou quase todos) dos diversos distritos do CORPO DE BOMBEIROS, foram levados para o QG da Corporação, totalizando 63 veículos e 4 escadas MAGIRUS.

Aos 40 minutos de hoje continuavam as reuniões governamentais para cuidar da crise da FORÇA PÚBLICA. Nos CAMPOS ELÍSIOS, na ala residencial do PALÁCIO, além do governador, estavam reunidos o secretário da Segurança Pública, FRANCISCO JOSÉ DA NOVA; JOSÉ BONIFÁCIO NOGUEIRA (Agricultura), MÁRCIO PORTO (Governo), HÉLIO BICUDO e HÉLIO DAMANTE, auxiliares do chefe do Executivo. Já no Quartel General da FORÇA PÚBLICA, para onde retornou dos CAMPOS ELÍSIOS, o seu comandante, com ele tratavam do assunto todo o Estado-Maior da FP e comandantes de departamentos da milícia, inclusive do CORPO DE BOMBEIROS.”

Ontem, dia 13, pela manhã, iniciada parcialmente a greve na CMTC –setor de ônibus– motivada pelo atraso de pagamento. O setor de bondes não foi afetado e não se fala, ainda, em greve.     



2 comentários:

  1. Sr Jefferson:

    O senhor é um ser realmente surpreendente.


    Caipira/RS

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  2. Obrigado pelo elogio.
    A questão salarial das instituições policiais sempre foi delicada para os governos estaduais. O fato é que os policiais tem um soldo muito pequeno em função do seu compromisso ético.

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